Tributação para médicos: qual é o melhor?

O Brasil possui um sistema tributário complexo e variado, oferecendo diferentes regimes de tributação para empresas e profissionais autônomos como médicos. 

 

Essa diversidade de opções torna importante para os médicos entenderem os diferentes regimes de tributação disponíveis e escolherem aquele que melhor se adapta às suas necessidades e perfil financeiro. 

 

Neste artigo, vamos explorar os principais regimes de tributação para médicos e discutir as vantagens e desvantagens de cada um.

 

Confira!

1. Simples Nacional

 

O Simples Nacional é um regime tributário simplificado para micro e pequenas empresas no Brasil, que unifica o pagamento de diversos impostos em uma única guia, chamada Documento de Arrecadação do Simples Nacional (DAS). Para empresas do setor de serviços médicos, como consultórios e clínicas médicas, os impostos incluídos no Simples Nacional são os seguintes:

Impostos Federais

  1. IRPJ (Imposto de Renda da Pessoa Jurídica)

    • Incide sobre o lucro da empresa.

  2. CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido)

    • Também incide sobre o lucro, destinado ao financiamento da seguridade social.

  3. PIS/PASEP (Programa de Integração Social e Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público)

    • Contribuição social destinada ao financiamento do seguro-desemprego e do abono salarial.

  4. COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social)

    • Contribuição social destinada ao financiamento da seguridade social.

  5. IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados)

    • Relevante para empresas que industrializam produtos. Não se aplica diretamente a serviços médicos.

Impostos Estaduais

ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços)

  • Incide sobre a circulação de mercadorias e sobre serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação. Para serviços médicos, este imposto geralmente não se aplica.

Impostos Municipais

ISS (Imposto sobre Serviços)

  • Incide sobre a prestação de serviços, incluindo serviços médicos, odontológicos e de saúde em geral.

Contribuições Previdenciárias

CPP (Contribuição Patronal Previdenciária)

  • Substitui a contribuição previdenciária sobre a folha de pagamento, abrangendo a parte patronal das contribuições para o INSS.

 

Tabela do Simples Nacional: como funcionam os valores das alíquotas? 

A alíquota do Simples Nacional varia de acordo com a receita bruta acumulada nos 12 meses anteriores ao período de apuração e o tipo de atividade exercida. 

O cálculo é realizado com base nas tabelas e anexos do Simples Nacional, sendo o Anexo III e Anexo V os mais comuns para atividades médicas, dependendo da relação de despesas com a folha de pagamento.

Anexo III do Simples Nacional

O Anexo III é aplicável a atividades de prestação de serviços, incluindo serviços médicos, desde que a folha de salários represente mais de 28% da receita bruta total.

 

Faixas e Alíquotas:

  1. Receita Bruta até R$ 180.000,00:

    • Alíquota: 6%

    • Parcela a Deduzir: R$ 0,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 6%

  2. De R$ 180.000,01 até R$ 360.000,00:

    • Alíquota: 11,20%

    • Parcela a Deduzir: R$ 9.360,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 9,30%

  3. De R$ 360.000,01 até R$ 720.000,00:

    • Alíquota: 13,50%

    • Parcela a Deduzir: R$ 17.640,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 11,71%

  4. De R$ 720.000,01 até R$ 1.800.000,00:

    • Alíquota: 16%

    • Parcela a Deduzir: R$ 35.640,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 13,93%

  5. De R$ 1.800.000,01 até R$ 3.600.000,00:

    • Alíquota: 21%

    • Parcela a Deduzir: R$ 125.640,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 18,71%

  6. De R$ 3.600.000,01 até R$ 4.800.000,00:

    • Alíquota: 33%

    • Parcela a Deduzir: R$ 648.000,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 27%

Anexo V do Simples Nacional

O Anexo V é aplicável a atividades de prestação de serviços que não se enquadram nos outros anexos e não têm uma folha de salários superior a 28% da receita bruta.

Faixas e Alíquotas:

  1. Receita Bruta até R$ 180.000,00:

    • Alíquota: 15,50%

    • Parcela a Deduzir: R$ 0,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 15,50%

  2. De R$ 180.000,01 até R$ 360.000,00:

    • Alíquota: 18%

    • Parcela a Deduzir: R$ 4.500,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 16,75%

  3. De R$ 360.000,01 até R$ 720.000,00:

    • Alíquota: 19,50%

    • Parcela a Deduzir: R$ 9.900,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 18,12%

  4. De R$ 720.000,01 até R$ 1.800.000,00:

    • Alíquota: 20,50%

    • Parcela a Deduzir: R$ 17.100,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 19,57%

  5. De R$ 1.800.000,01 até R$ 3.600.000,00:

    • Alíquota: 23%

    • Parcela a Deduzir: R$ 62.100,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 21,28%

  6. De R$ 3.600.000,01 até R$ 4.800.000,00:

    • Alíquota: 30,50%

    • Parcela a Deduzir: R$ 540.000,00

    • Alíquota Efetiva Máxima: 25,63%

Cálculo da Alíquota Efetiva

A alíquota efetiva é calculada subtraindo a parcela a deduzir e aplicando a fórmula sobre a receita bruta acumulada nos 12 meses anteriores. A fórmula é:

 

Cálculo e Pagamento: DAS

A DAS, Documento de Arrecadação do Simples Nacional, é uma guia gerada mensalmente e deve ser paga até o dia 20 do mês subsequente ao de apuração. É possível emitir a guia através do Portal do Simples Nacional ou com a ajuda de um contador.

O Simples Nacional facilita o cumprimento das obrigações fiscais, unificando o pagamento de diversos impostos em uma única guia. No entanto, é importante entender quais tributos estão incluídos e manter uma gestão financeira organizada para garantir que todos os impostos sejam pagos corretamente e dentro dos prazos estabelecidos. 

Algumas vantagens do Simples Nacional para médicos incluem:

 

Simplificação tributária: o Simples Nacional reduz a burocracia e simplifica o processo de pagamento de impostos para médicos.

 

Alíquotas reduzidas: as alíquotas do Simples Nacional costumam ser mais baixas do que as alíquotas dos regimes de tributação convencionais, o que pode resultar em uma carga tributária menor para médicos com receitas mais baixas.

 

No entanto, o Simples Nacional pode não ser a melhor opção para todos os médicos. Ele possui limitações de faturamento e pode não ser vantajoso para médicos com receitas mais altas, pois as alíquotas podem ser progressivamente maiores à medida que a receita aumenta. Além disso, médicos que realizam atividades não permitidas pelo Simples Nacional, como participação em outras empresas, não podem optar por esse regime.

Consultar um contador especializado pode ajudar a otimizar a gestão tributária e aproveitar os benefícios deste regime simplificado.

2. Lucro Presumido

 

O Lucro Presumido é um regime de tributação simplificado que presume uma margem de lucro para determinar a base de cálculo dos impostos. No Lucro Presumido, os médicos pagam impostos sobre uma margem de lucro presumida, independentemente do lucro real obtido. 

Os impostos e contribuições incidem sobre a receita bruta. Abaixo estão os principais que um médico precisa pagar nesse regime:

1. Impostos Federais

Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ)

  • Base de Cálculo: No Lucro Presumido, a base de cálculo é determinada com base em um percentual da receita bruta. Para serviços médicos, esse percentual é de 32%.

  • Alíquota: A alíquota é de 15% sobre a base de cálculo presumida.

  • Adicional: Há um adicional de 10% sobre a parcela do lucro presumido que exceder R$ 20.000,00 por mês.

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)

  • Base de Cálculo: Assim como o IRPJ, a base de cálculo é 32% da receita bruta para serviços médicos.

  • Alíquota: A alíquota é de 9%.

2. Contribuições Sociais

Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS)

  • PIS: A alíquota é de 0,65% sobre a receita bruta.

  • COFINS: A alíquota é de 3% sobre a receita bruta.

3. Impostos Municipais

Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS)

  • Base de Cálculo: Incide sobre a receita bruta do serviço prestado.

  • Alíquota: A alíquota varia de acordo com o município, geralmente entre 2% e 5%. Verifique a alíquota específica com a prefeitura do município onde o serviço é prestado.

4. Contribuições Previdenciárias

Contribuição Patronal Previdenciária (CPP)

  • Base de Cálculo: Incide sobre a folha de pagamento dos funcionários.

  • Alíquota: A alíquota é de 20% sobre o total da folha de pagamento.

 

Exemplo de Cálculo

Para ilustrar, vamos considerar um exemplo hipotético de uma clínica médica que tem uma receita bruta mensal de R$ 100.000,00.

  1. IRPJ:

    • Base de cálculo: 32% de R$ 100.000,00 = R$ 32.000,00

    • IRPJ: 15% de R$ 32.000,00 = R$ 4.800,00

    • Adicional (se aplicável): 10% sobre a parcela do lucro que excede R$ 20.000,00 (supondo que o valor presumido anual supere R$ 240.000,00). – Neste exemplo, o valor de R$ 4.800 não se aplica para o cálculo, uma vez que é menor do que R$ 20.000,00.

    • Para simplificar o cálculo, considere 32% * 15% = 4,8% da receita bruta.

  2. CSLL:

    • Base de cálculo: 32% de R$ 100.000,00 = R$ 32.000,00

    • CSLL: 9% de R$ 32.000,00 = R$ 2.880,00

    • Para simplificar o cálculo, considere 32% * 9% = 2,88% da receita bruta.

  3. PIS:

    • PIS: 0,65% de R$ 100.000,00 = R$ 650,00

  4. COFINS:

    • COFINS: 3% de R$ 100.000,00 = R$ 3.000,00

  5. ISS (alíquota hipotética de 3%):

    • ISS: 3% de R$ 100.000,00 = R$ 3.000,00

  6. CPP (supondo uma folha de pagamento de R$ 50.000,00):

    • CPP: 20% de R$ 50.000,00 = R$ 10.000,00

Total de Impostos e Contribuições

  • IRPJ (4,8%): R$ 4.800,00 

  • CSLL (2,88%): R$ 2.880,00

  • PIS (0,65%): R$ 650,00

  • COFINS (3%): R$ 3.000,00

  • ISS (3%): R$ 3.000,00

Total sem CPP = 14,33% da receita bruta = R$ 14.330,00

  • CPP  = 10% da receita bruta (se  20% for alocado para folha de pagamento): R$ 10.000,00

 

Impostos e Contribuições Finais 

Total com CPP =  24,33% da receita bruta = R$ 24.330,00 

 

Optar pelo regime de Lucro Presumido pode ser vantajoso para médicos, dependendo do volume de receitas e despesas do consultório ou clínica. Algumas vantagens do Lucro Presumido para médicos incluem:

 

Menos burocracia: O Lucro Presumido é menos burocrático do que o Lucro Real, exigindo menos obrigações acessórias e menos registros contábeis detalhados.

Alíquotas fixas: As alíquotas do Lucro Presumido são fixas e previsíveis, o que facilita o planejamento tributário para médicos.

 

No entanto, o Lucro Presumido pode não ser a melhor opção para médicos com margens de lucro reais mais baixas, pois eles podem acabar pagando mais impostos do que pagariam no Lucro Real. 

 

Além disso, médicos que desejam aproveitar deduções fiscais adicionais podem achar o Lucro Presumido limitado nesse aspecto. É fundamental contar com a orientação de um contador especializado para assegurar o correto cumprimento das obrigações fiscais e otimizar a carga tributária.

3. Lucro Real

 

O Lucro Real é um regime de tributação em que os impostos são calculados com base no lucro real obtido pela empresa. No Lucro Real, os médicos pagam impostos sobre o lucro líquido real, após deduções de despesas e custos operacionais. 

 

Algumas vantagens do Lucro Real para médicos incluem:

 

Deduções fiscais: O Lucro Real permite uma ampla gama de deduções fiscais, incluindo despesas médicas, depreciação de equipamentos, gastos com pessoal, entre outros.

Maior controle: O Lucro Real oferece maior controle sobre a base de cálculo dos impostos, permitindo que os médicos otimizem suas finanças e reduzam sua carga tributária.

 

O regime de Lucro Real é um dos regimes tributários disponíveis no Brasil e é considerado mais complexo que os regimes de Lucro Presumido e Simples Nacional. Ele requer manutenção de registros contábeis detalhados e pode ser mais oneroso em termos de tempo e recursos.

No entanto, pode ser vantajoso para certas empresas, incluindo clínicas e consultórios médicos, especialmente se suas margens de lucro forem menores ou se tiverem muitas despesas dedutíveis. 

Aqui está um guia sobre como funciona o regime de Lucro Real para um médico:

1. Cálculo do Lucro Real

  • Lucro Real: O lucro real é a base de cálculo do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). Ele é obtido a partir do lucro líquido do período ajustado por adições, exclusões e compensações previstas na legislação fiscal.

    • Receitas: Todas as receitas operacionais e não operacionais da empresa.

    • Despesas: Todas as despesas operacionais e não operacionais necessárias para a atividade da empresa.

 

2. Impostos e Contribuições

Imposto de Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ)

  • Alíquota: 15% sobre o lucro real apurado trimestralmente.

  • Adicional: 10% sobre a parcela do lucro real que exceder R$ 20.000,00 por mês (R$ 60.000,00 por trimestre).

Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL)

  • Alíquota: 9% sobre o lucro real apurado trimestralmente.

Programa de Integração Social (PIS) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS)

  • PIS: 1,65% sobre a receita bruta (no regime não cumulativo).

  • COFINS: 7,6% sobre a receita bruta (no regime não cumulativo).

3. Periodicidade do Pagamento

  • IRPJ e CSLL: Os tributos são apurados e pagos trimestralmente ou anualmente (no caso de apuração anual, são feitos pagamentos mensais com base em estimativa).

  •  
  • PIS e COFINS: Apuração e pagamento mensais.

4. Obrigações Acessórias

  • Escrituração Contábil: A empresa deve manter uma escrituração contábil rigorosa e atualizada, com registros de todas as operações financeiras, patrimoniais e contábeis.

  • Escrituração Fiscal Digital (EFD): Envio mensal de informações fiscais à Receita Federal.

  • DCTF (Declaração de Débitos e Créditos Tributários Federais): Declaração que informa os tributos apurados e pagos.

  • EFD-Contribuições: Obrigatória para informar a apuração do PIS e COFINS.

  • ECD (Escrituração Contábil Digital) e ECF (Escrituração Contábil Fiscal): Escriturações contábeis e fiscais enviadas anualmente ao Sistema Público de Escrituração Digital (SPED).

Vantagens e Desvantagens

Vantagens

  • Dedução de Despesas: Possibilidade de deduzir todas as despesas operacionais, o que pode reduzir a base de cálculo do IRPJ e da CSLL.

  • Ajustes no Lucro: Ajustes permitidos por lei podem reduzir a carga tributária.

  • Flexibilidade: Melhor controle sobre a apuração do lucro e dos tributos devidos.

Desvantagens

  • Complexidade: Maior complexidade na escrituração contábil e fiscal.

  • Custos: Possivelmente maiores custos com contabilidade e auditoria.

  • Fiscalização: Maior rigor na fiscalização por parte da Receita Federal.

Exemplo de Cálculo

Vamos considerar uma clínica médica com as seguintes informações trimestrais:

  • Receita Bruta: R$ 300.000,00

  • Despesas Operacionais: R$ 200.000,00

  • Lucro Líquido: R$ 100.000,00

IRPJ

  • Base de Cálculo: R$ 100.000,00

  • IRPJ: 15% de R$ 100.000,00 = R$ 15.000,00

  • Adicional: 10% sobre R$ 40.000,00 (R$ 100.000,00 – R$ 60.000,00) = R$ 4.000,00

  • Total de IRPJ: R$ 19.000,00

CSLL

  • Base de Cálculo: R$ 100.000,00

  • CSLL: 9% de R$ 100.000,00 = R$ 9.000,00

PIS

  • Base de Cálculo: R$ 300.000,00

  • PIS: 1,65% de R$ 300.000,00 = R$ 4.950,00

 

COFINS

  • Base de Cálculo: R$ 300.000,00

  • COFINS: 7,6% de R$ 300.000,00 = R$ 22.800,00

 

Optar pelo regime de Lucro Real pode ser vantajoso para médicos que têm despesas operacionais significativas e que podem ser deduzidas da base de cálculo dos impostos. No entanto, é fundamental contar com a orientação de um contador especializado para gerenciar a complexidade do regime e assegurar o cumprimento de todas as obrigações fiscais e contábeis.

Conclusão

 

A escolha do melhor regime de tributação para médicos depende de uma série de fatores, incluindo o volume de receita, as despesas operacionais, o perfil tributário e as metas financeiras individuais. 

 

Cada regime tem suas próprias vantagens e desvantagens, e é importante que os médicos avaliem cuidadosamente suas opções antes de tomar uma decisão. 

 

Consultar um contador ou consultor fiscal especializado em saúde pode ser uma estratégia valiosa para ajudar os médicos a tomar a decisão certa e otimizar sua carga tributária.

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Allephy Barros

Diretor Financeiro e Contador da AdmDoctor

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